Não dá para nos calarmos diante do cenário desolador que vivemos no setor de saúde em Goiás. A inadimplência das secretarias de saúde, tanto municipal quanto estadual, não é apenas um problema burocrático ou financeiro – é uma crise humanitária que afeta empresas, prestadores de serviços e, principalmente, a população que depende desses serviços para sobreviver. A saúde é inegociável.
O IMAS, que deveria ser um pilar de apoio aos servidores, acumula dívidas milionárias, com atrasos que chegam a meses no pagamento de hospitais e clínicas. Empresas credoras de valores expressivos foram obrigadas a suspender tratamentos essenciais, como os oncológicos, e até fechar suas portas, deixando pacientes e trabalhadores em total assistência. E não é só o IMAS: o governo estadual também falha em honrar seus compromissos, criando um efeito dominó de prejuízos.
Esses atrasos estrangulam financeiramente os prestadores de serviços, que acumulam custos de insumos, salários e manutenção de infraestrutura sem receber por serviços prestados. Muitos clínicas e hospitais estão reduzindo equipes, limitando atendimentos especializados e, em alguns casos, fechando as portas.
Tivemos o exemplo emblemático do fechamento de uma unidade tradicional e histórica de Goiânia, que foi obrigada a encerrar suas atividades após anos de inadimplência do poder público. Com o fechamento, 120 postos de trabalho foram perdidos, sem contar os prestadores de serviço e fornecedores que também foram impactados.
É um efeito em cadeia que não só inviabiliza o funcionamento dos hospitais, laboratórios e clínicas, mas também fragiliza a economia em um momento já marcado pela recessão. O resultado é a migração forçada de pacientes para um SUS já sobrecarregado, onde as filas aumentam e a qualidade do atendimento piora.
A população é quem mais sofre. Histórias como a de Mariângela Pereira, que precisou pagar por uma cirurgia particular após ser negligenciada pelo IMAS e pelo SUS, ou a de Gabriella Martins, grávida de 9 meses sem garantia de parto pelo plano, são relatos que se multiplicam. São vidas sendo colocadas em risco por uma gestão pública ineficiente e descompromissada.
Enquanto isso, as promessas de soluções seguem sem sair do papel. A falta de transparência e a lentidão nas ações só agravam a desconfiança e o desespero de todos os envolvidos. É urgente que o governo estadual e a prefeitura assumam sua responsabilidade, garantindo pagamentos em dia, transparência nas negociações e um modelo de financiamento que sustente o sistema de saúde.
Enquanto isso não acontecer, continuaremos assistindo ao colapso de um direito básico: o acesso à saúde digna e de qualidade. A situação é insustentável e exige medidas imediatas. Precisamos de um compromisso real com a saúde pública, que priorize a vida das pessoas e a sustentabilidade dos serviços. Caso contrário, veremos mais hospitais fechando, mais empregos sendo perdidos e mais vidas sendo colocadas em risco.
Christiane do Valle, Biomédica, presidente do Sindicato dos Laboratórios de Análises Clínicas e Bancos de Sangue (SINDILABS-GO) e da Federação dos Hospitais, Laboratórios, Clínicas de Imagem e Estabelecimentos de Serviços e Saúde no Estado de Goiás (FEHOESG).
Fonte: Jornal O Popular